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Channel: Choco la Design » Ane Molina
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A Estética do Frio

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“É difícil que as regiões se conheçam bem em um país tão grande
como o Brasil. Acabam sempre lançando mão de estereótipos e
fixando uma imagem imprecisa umas das outras. A mídia nacional,
situada no centro geográfico, enfrenta a mesma dificuldade e, ao
tentar dar conta da diversidade, adota os estereótipos regionais,
o que termina por reforçá-los. Neste processo, distorções muitas
vezes se estabelecem como definições de cores locais.”

Vitor Ramil em “A Estética do Frio

Estou em casa (leia-se Porto Alegre-RS) há dez dias. Há muito eu não vinha durante o inverno; e agosto tende a ter as temperaturas mais baixas por aqui. Nesse tempo, fiquei comparando meu cantinho lá no cerrado, com suas cores e calor e essa valorização dos espaços abertos tão típica daí, com meu cantinho do Sul. Aqui, as coisas são diferentes. Existe uma certa solidão no frio. Eu comecei a reparar nos outdoors. Sete entre dez tem o texto e uma pessoa sozinha olhando pra câmera. Só isso. Uma pessoa sozinha. Feliz ou triste, sorrindo ou séria, jovem ou velha, mas sozinha. Acabei lembrando desse texto do Vitor Ramil que citei aí no começo. Ele fala um pouco de como e por que motivos temos essa essência, nós aqui do Sul, tão diferente da brasilidade do resto do país. Por que somos tão cinzas e rabujentos comparados aos nossos compatriotas. Vale a pena a leitura pra quem é curioso. Link aqui.

 A Estética do Frio

Relendo o texto, fui pegando, aos poucos esse clima que me rodeava e que faz o Sul tão diferente do resto. Somos o povo que habita o frio. É difícil que isso não faça diferença. O pampa, a imensidão, o fato de que somos, cada gaúcho, esse solitário personagem que habita os campos e que não tem, a bem da verdade, laços fortes com nada a não ser a terra. O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo mostra bem esse imaginário. Do todo passageiro onde a única coisa constante é a terra. O resto é o que o tempo, o vento e as guerras têm o poder de levar. Somos isso, nós, os gaúchos. Com firmes raízes plantadas no pampa da solidão. Essa estética se registra nos hábitos, nas relações, na música. Para saber um pouco mais, assista o trailer abaixo, do documentário “A linha Fria do Horizonte“.

A Linha Fria do Horizonte – Trailer from Luciano Coelho on Vimeo.

Mas e as imagens? Parei pra pensar na minha área de expertise e me veio à mente, de cara, um fotógrafo que conheço desde algum tempo. Que me é referência e que me dá a mesma sensação de ouvir a música do Vitor Ramil.

O Fotógrafo do Frio

Leopoldo Plentz  é um fotógrafo gaúcho que sempre me foi caro. Seja por suas fotos de urbanidades (urbanidades que não se resumem, de forma alguma aos cenários do sul) seja por sua premiada série das coisas inúteis, ele é uma inspiração como fotógrafo autoral e como professor.

Sua obra é permeada por essa austeridade que temos aqui. Pela espinha ereta, pela estrutura e pela solidão. Não aquela solidão datada, sentimental. Uma solidão aprendida, entrecortada de vivência. Leopoldo é o fotógrafo do frio, um frio que o acompanha onde quer que ele vá. Seja qual for a paisagem, seja qual for a escala a ser fotografada. Se existe uma estética do frio, taí. Mais sobre Leopoldo Plentz.

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Confira o artigo original publicado pelo Choco La Design:
A Estética do Frio


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